“E ele disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” Marcos 14:36
“Cristo Se achava no ponto de transição entre dois sistemas e suas duas grandes festas. Ele, o imaculado Cordeiro de Deus, estava para Se apresentar como oferta pelo pecado, e queria assim levar a termo o sistema de símbolos e cerimônias que por quatro mil anos apontara à Sua morte. Ao comer a páscoa com Seus discípulos, instituiu em seu lugar o serviço que havia de comemorar Seu grande sacrifício. Passaria para sempre a festa nacional dos judeus. O serviço que Cristo estabeleceu devia ser observado por Seus seguidores em todas as terras e por todos os séculos.“ DA 462.2
“Mediante os ensinos do sacrifício expiatório, Cristo devia ser exaltado perante todas as nações, e todos os que olhassem para Ele viveriam. Cristo era o fundamento da organização judaica. Todo o sistema de tipos e símbolos era uma compacta profecia do evangelho, uma representação em que se continham as promessas de redenção.” AA 11.3
Qual é a relação entre as duas histórias relatadas em Marcos 14:1-11?
“Ora, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dEle uma mulher, trazendo um vaso de alabastro cheio de precioso bálsamo, que Lhe derramou sobre a cabeça, estando Ele à mesa.” Mateus 26:6, 7. CT 276.1
“Esse incidente está repleto de instruções. Jesus, o Redentor do mundo, aproxima-Se do momento em que dará Sua vida por um mundo pecaminoso. Quão pouco, entretanto, compreendem até mesmo Seus discípulos daquilo que estão prestes a perder. Maria não racionalizou quanto a esse assunto. Seu coração estava repleto de amor puro e santo. O sentimento de seu coração era: “Que darei ao Senhor por todos os Seus benefícios para comigo?” Salmos 116:12. Aquele bálsamo precioso, como fora avaliado pelos discípulos, nada mais era que uma fraca expressão de seu amor por seu Mestre. Mas Cristo soube valorizar a dádiva como uma expressão de amor, e o coração de Maria se encheu de perfeita paz e felicidade.” CT 276.2
“Cristo Se deleitou no sincero desejo de Maria de fazer a vontade de seu Senhor. Aceitou a riqueza da pura afeição que Seus discípulos não entendiam e não podiam entender. ... O ungüento de Maria foi a dádiva do amor, e isso lhe deu valor aos olhos de Cristo. ... Jesus viu Maria retirar-se envergonhada, esperando ouvir uma repreensão dAquele a quem ela amava e adorava. Mas em lugar disso, ouve palavras de condenação. “Por que molestais essa mulher?” disse Ele. “Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a Mim nem sempre Me tendes; pois, derramando este perfume sobre o Meu corpo, ela o fez para o Meu sepultamento. Em verdade vos digo: Onde for pregado em todo o mundo este evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua.” Mateus 26:10-13. Jesus não receberia nenhuma outra unção, pois se aproximava o sábado e eles guardavam o sábado segundo o mandamento. ... O desejo que Maria tivera de realizar aquele serviço por seu Senhor foi de mais valor para Cristo do que todo o nardo e precioso ungüento do mundo, porque expressava seu apreço pelo Redentor do mundo. Era o amor de Cristo que a constrangia. ...” CT 276.3
“Maria, pelo poder do Espírito Santo, viu em Jesus Aquele que viera buscar e salvar as pessoas prestes a perecer. Cada um dos discípulos deveria ter sido inspirado com uma devoção semelhante.” — Manuscrito 28, 1897.” CT 276.4
Leia Marcos 14:22-31 e Êxodo 24:8. Que grande significado para a fé cristã se encontra no relato de Marcos?
“‘E quando comiam, Jesus tomou o pão, e, abençoando-o, o partiu e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o Meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de Meu Pai’”. Mateus 26:26-29. DTN 463.2
“Judas, o traidor, achava-se presente à cerimônia sacramental. Ele recebeu de Jesus os emblemas de Seu corpo partido e de Seu derramado sangue. Ouviu as palavras: “Fazei isto em memória de Mim”. 1 Coríntios 11:25. E ali, sentado na própria presença do Cordeiro de Deus, o traidor alimentava seus negros desígnios, e acariciava seus vingativos pensamentos.” DTN 463.3
“No lava-pés, Cristo dera convincente prova de que compreendia o caráter de Judas. “Nem todos estais limpos” (João 13:11), dissera. Essas palavras convenceram o falso discípulo de que Cristo lhe lia o secreto desígnio. Agora Jesus falou mais claramente. Enquanto estavam sentados à mesa, Ele disse, olhando para os discípulos: ‘Não falo de todos vós; Eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra Mim o seu calcanhar’”. João 13:18. DTN 463.4
“Se bem que Jesus conhecesse Judas desde o princípio, lavou-lhe os pés. E o traidor teve o privilégio de unir-se com Cristo na participação do sacramento. Um longânimo Salvador empregou todo incentivo para o pecador O receber, arrepender-se e ser purificado da contaminação do pecado. Esse exemplo nos é dado a nós. Quando supomos que alguém está em erro e pecado, não nos devemos apartar dele. Não devemos, por nenhuma indiferente separação deixá-lo presa da tentação, ou empurrá-lo para o terreno de Satanás. Esse não é método de Cristo. Foi porque os discípulos estavam em erro e falta que Ele lhes lavou os pés, e todos, com exceção de um dos doze, foram assim levados ao arrependimento.” DTN 465.2
“Ao recebermos o pão e o vinho simbolizando o corpo partido de Cristo e Seu sangue derramado, unimo-nos, pela imaginação, à cena da comunhão no cenáculo. Afigura-se-nos estar atravessando o jardim consagrado pela agonia dAquele que levou sobre Si os pecados do mundo. Testemunhamos a luta mediante a qual foi obtida nossa reconciliação com Deus. Cristo crucificado apresenta-Se entre nós.” DTN 468.1
“Depois do hino, saíram. Atravessaram as ruas, saindo pela porta da cidade em direção do monte das Oliveiras. Lentamente caminhavam, preocupado cada um com seus próprios pensamentos. Ao começarem a descer para o monte, Jesus disse, num tom de profunda tristeza: “Todos vós esta noite vos escandalizareis em Mim; porque está escrito: Ferirei o Pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão”. Mateus 26:31. Os discípulos escutaram contristados e possuídos de espanto. Lembravam-se de como, na sinagoga de Cafarnaum, quando Cristo falara de Si mesmo como o pão da vida, muitos se escandalizaram, afastando-se dEle. Os doze, porém, não se tinham mostrado infiéis. Pedro, falando por seus irmãos, declarara sua lealdade a Cristo. Então o Salvador dissera: “Não vos escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo”. João 6:70. No cenáculo Jesus dissera que um dos doze O havia de trair, e que Pedro O negaria. Mas agora Suas palavras os incluíam a todos.” DTN 476.4
“Então se fez ouvir a voz de Pedro protestando veemente: “Ainda que todos se escandalizem, nunca porém, eu”. No cenáculo, declarara: “Por Ti darei a minha vida.” Jesus o advertira de que naquela mesma noite negaria seu Salvador. Agora Cristo repete a advertência: “Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes Me negarás.” Mas Pedro apenas “disse com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum Te negarei. E da mesma maneira diziam todos também”. Marcos 14:29, 30, 31. Em sua confiança de si mesmos, negaram a repetida declaração dAquele que é Onisciente. Não estavam preparados para a prova; quando a tentação os assaltasse, compreenderiam a própria fraqueza.” DTN 477.1
“Quando Pedro disse que seguiria seu Senhor à prisão e à morte, era sincero em cada palavra proferida; mas não conhecia a si mesmo. Ocultos em seu coração havia elementos de mal que as circunstâncias fariam germinar. A menos que ele fosse levado à consciência de seu perigo, esses elementos se demonstrariam sua eterna ruína. O Salvador viu nele um amor-próprio e segurança que sobrepujariam mesmo o amor de Cristo. Em sua vida se revelara muito de enfermidade, pecado não mortificado, descuido de espírito, gênio não santificado e temeridade para entrar em tentação. A solene advertência de Cristo era um chamado a exame de coração. Pedro necessitava desconfiar de si mesmo, e ter maior fé em Cristo. Houvesse ele recebido com humildade a advertência, e teria recorrido ao Pastor do rebanho para que guardasse Sua ovelha. Quando, no mar da Galiléia, se achava prestes a submergir, clamara: “Senhor, salva-me!” Mateus 14:30. Então a mão de Cristo se estendera para segurar a sua. Assim agora, se clamasse a Jesus: Salva-me de mim mesmo teria sido guardado. Pedro sentiu, porém, que lhe faltavam com a confiança, e julgou isso cruel. Estava já ofendido, e mais persistente se tornou na confiança própria.” DTN 477.2
Leia Marcos 14:32-42. De que maneira Jesus orou no Getsêmani, e como essa oração foi respondida?
“Voltando, Jesus tornou a procurar o Seu retiro, caindo prostrado, vencido pelo horror de uma grande treva. A humanidade do Filho de Deus tremia naquela probante hora. Não orava agora pelos discípulos, para que a fé deles não desfalecesse, mas por Sua própria alma assediada de tentação e angústia. O tremendo momento chegara — aquele momento que decidiria o destino do mundo. Na balança oscilava a sorte da humanidade. Cristo ainda podia, mesmo então, recusar beber o cálice reservado ao homem culpado. Ainda não era demasiado tarde. Poderia enxugar da fronte o suor de sangue, e deixar perecer o homem em sua iniqüidade. Poderia dizer: Receba o pecador o castigo de seu pecado, e Eu voltarei a Meu Pai. Beberá o Filho de Deus o amargo cálice da humilhação e da agonia? Sofrerá o Inocente as conseqüências da maldição do pecado, para salvar o criminoso? Trêmulas caem as palavras dos pálidos lábios de Jesus: “Pai Meu, se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se a Tua vontade”. Mateus 26:42. DTN 488.1
“Três vezes proferiu essa oração. Três vezes recuou Sua humanidade do último, supremo sacrifício. Surge, porém, então, a história da raça humana diante do Redentor do mundo. Vê que os transgressores da lei, se deixados, têm de perecer. Vê o desamparo do homem. Vê o poder do pecado. As misérias e os ais do mundo condenado erguem-se ante Ele. Contempla-lhe a sorte iminente, e decide-Se. Salvará o homem custe o que custar de Sua parte. Aceita Seu batismo de sangue, para que, por meio dEle, milhões de almas a perecer obtenham a vida eterna. Deixou as cortes celestiais, onde tudo é pureza, felicidade e glória para salvar a única ovelha perdida, o único mundo caído pela transgressão. E não Se desviará de Sua missão. Tornar-Se-á a propiciação de uma raça que quis pecar. Sua prece agora respira apenas submissão: “Se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se a Tua vontade”. Mateus 26:42. DTN 488.2
“Havendo tomado a decisão, cai moribundo no solo do qual Se erguera parcialmente. Onde se achavam então os discípulos, para pôr ternamente as mãos sob a cabeça do desfalecido Mestre, e banhar aquela fronte, na verdade mais desfigurada que a dos outros filhos dos homens? O Salvador pisou sozinho o lagar, e do povo nenhum com Ele havia.” DTN 488.3
“Mas Deus sofria com Seu Filho. Anjos contemplavam a agonia do Salvador. Viam seu Senhor circundado de legiões das forças satânicas, Sua natureza vergada ao peso de misterioso pavor que todo O fazia tremer. Houve silêncio no Céu. Nenhuma harpa soava. Pudessem os mortais ter testemunhado o assombro das hostes angélicas quando, em silenciosa dor, observavam o Pai retirando de Seu bem-amado Filho os raios de luz, amor e glória, e melhor compreenderiam quão ofensivo é aos Seus olhos o pecado.” DTN 488.4
“Os mundos não caídos e os anjos celestiais vigiavam com intenso interesse o conflito que se aproximava do desfecho. Satanás e suas hostes do mal, as legiões da apostasia, seguiam muito atentamente essa grande crise na obra da redenção. Os poderes do bem e do mal aguardavam para ver qual a resposta que seria dada à oração de Cristo — três vezes repetida. Os anjos anelavam trazer alívio ao divino Sofredor, mas isso não podia ser. Nenhum meio de escape havia para o Filho de Deus. Nessa horrível crise, quando tudo estava em jogo, quando o misterioso cálice tremia nas mãos do Sofredor, abriu-se o Céu, surgiu uma luz por entre a tempestuosa treva da hora da crise, e o poderoso anjo que se acha na presença de Deus, ocupando a posição da qual Satanás caíra, veio para junto de Cristo. O anjo não veio para tomar-Lhe o cálice das mãos, mas para fortalecê-Lo a fim de que o bebesse, com a certeza do amor do Pai. Veio para dar força ao divino-humano Suplicante. Ele Lhe apontou os Céus abertos, falando-Lhe das almas que seriam salvas em resultado de Seus sofrimentos. Afirmou-Lhe que Seu Pai é maior e mais poderoso que Satanás, que Sua morte redundaria na sua inteira derrota, e que o reino deste mundo seria dado aos santos do Altíssimo. Disse-Lhe que Ele veria o trabalho de Sua alma, e ficaria satisfeito, pois contemplaria uma multidão de membros da família humana salvos, eternamente salvos.” DTN 489.1
“A agonia de Cristo não cessou, mas Sua depressão e desânimo O deixaram. A tempestade não amainou de maneira alguma, mas Aquele que dela era objeto estava fortalecido para lhe enfrentar a fúria. Saiu calmo e sereno. Uma paz celestial pairava-Lhe no rosto manchado de sangue. Suportara aquilo que criatura alguma humana jamais poderia sofrer; pois provara os sofrimentos da morte por todos os homens.” DTN 489.2
Read Mark 14:43-52. What happens here that is so crucial to the plan of salvation?
“Contemplando-os dolorosamente, diz Ele: “Dormi agora, e repousai; eis que é chegada a hora, e o Filho do homem será entregue nas mãos dos pecadores.” DTN 489.3
“Mesmo ao proferir essas palavras, ouviu as pisadas da turba que vinha em Sua procura, e disse: ‘Levantai-vos, partamos; eis que é chegado o que Me trai’”. Mateus 26:45, 46. DTN 489.4
“Nenhum vestígio de Sua recente agonia se podia divisar ao adiantar-Se Jesus para enfrentar o traidor. Achando-Se à frente dos discípulos, disse: “A quem buscais?” Responderam: “A Jesus Nazareno.” Jesus disse: “Sou Eu”. João 18:4-6. Ao serem proferidas essas palavras, o anjo que há pouco estivera confortando a Jesus interpôs-se entre Ele e a multidão. Uma luz divina iluminou o rosto do Salvador, e uma como que pomba pairou sobre Ele. Em presença dessa divina glória, a turba assassina não pôde permanecer um momento. Cambalearam em recuo. Sacerdotes, anciãos, soldados e o próprio Judas caíram como mortos por terra.” DTN 490.1
“O anjo retirou-se, e dissipou-se a luz. Jesus tivera oportunidade de escapar, mas permaneceu, calmo e senhor de Si. Como pessoa glorificada, ficou em meio daquele bando endurecido, agora prostrado e impotente a Seus pés. Os discípulos contemplavam tudo silenciosos, com admiração e respeitoso temor.” DTN 490.2
“Rapidamente, porém, mudou a cena. A turba ergueu-se. Os soldados romanos, os sacerdotes e Judas reuniram-se em redor de Cristo. Pareciam envergonhados de sua fraqueza, e receosos de que Ele ainda escapasse. Novamente fez o Redentor a pergunta: “A quem buscais?” Tinham tido a prova de que Aquele que Se achava diante deles era o Filho de Deus, mas não se queriam convencer. À pergunta: “A quem buscais?” tornaram a responder: “A Jesus Nazareno.” O Salvador disse então: “Já vos disse que sou Eu; se pois Me buscais a Mim, deixai ir estes” (João 18:7, 8) — e apontou aos discípulos. Sabia quão fraca era a fé deles, e buscou protegê-los contra a tentação e a prova. Por eles estava pronto a Se sacrificar.” DTN 490.3
“Judas, o traidor, não esqueceu a parte que devia desempenhar. Quando a turba penetrou no horto, fora ele que a conduzira, seguido de perto pelo sumo sacerdote. Aos perseguidores de Jesus dera um sinal, dizendo: “O que eu beijar é esse; prendei-O”. Mateus 26:48. Pretende então não ter parte nenhuma com eles. Achegando-se a Jesus, toma-Lhe a mão como um amigo familiar. Com as palavras: “Eu Te saúdo, Rabi”, ele O beija repetidamente e parece chorar, como sentindo com Ele o perigo que corria. DTN 490.4
“Jesus lhe diz: “Amigo, a que vieste?” Mateus 26:50. A voz tremia-Lhe de dor, ao acrescentar: “Judas, com um beijo traís o Filho do homem?” Lucas 22:48. Esse apelo deveria ter despertado a consciência do traidor, e tocado seu obstinado coração; mas a honra, a fidelidade e a brandura humana o haviam abandonado. Permaneceu ousado e em desafio, não mostrando nenhuma disposição de abrandar-se. Entregara-se a Satanás, e não tinha poder para lhe resistir. Jesus não recusou o beijo do traidor. DTN 490.5
“A massa tornou-se ousada, ao ver Judas tocar a pessoa dAquele que tão pouco antes fora glorificado diante de seus olhos. Apoderaram-se, pois, de Jesus e começaram a atar aquelas preciosas mãos que sempre se haviam empregado em fazer bem. DTN 490.6
“Os discípulos haviam julgado que o Mestre não sofreria ser aprisionado. Pois o mesmo poder que fizera com que os da turba caíssem como mortos, mantê-los-ia impotentes até que Jesus e Seus companheiros escapassem. Ficaram decepcionados e indignados, ao verem as cordas trazidas para ligar as mãos dAquele a quem amavam. Em sua indignação, Pedro puxou precipitadamente da espada e procurou defender o Mestre, mas apenas cortou uma orelha do servo do sumo sacerdote. Quando Jesus viu o que fora feito, soltou as mãos — ainda que firmemente presas pelos soldados romanos — e dizendo: “Deixai-os; basta” (Lucas 22:51), tocou a orelha, e esta sarou instantaneamente. Disse então a Pedro: “Mete no seu lugar a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão. Ou pensas tu que Eu não poderia agora orar a Meu Pai, e que Ele não Me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mateus 26:52, 53) — uma legião em lugar de cada um dos discípulos. Oh! por que, pensaram os discípulos, não Se salva Ele e a nós? Respondendo a seu pensamento não expresso, acrescentou: “Como pois se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?” Mateus 26:54. ‘Não beberei Eu o cálice que o Pai Me deu?’” DTN 491.1
“Os discípulos ficaram aterrorizados, ao ver que Jesus permitia que O prendessem e ligassem. Escandalizaram-se de que Ele suportasse essa humilhação, feita a Si e a eles. Não Lhe podiam entender a conduta, e censuraram-nO por Se submeter à turba. Em sua indignação e temor, Pedro propôs que se salvassem. Seguindo essa sugestão, “todos os discípulos, deixando-O, fugiram”. Mas Cristo predissera essa deserção. “Eis que chega a hora”, dissera, “e já se aproxima, em que vós sereis dispersos, cada um para sua parte, e Me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo”. João 16:32. DTN 491.4
Leia Marcos 14:60-72. Como Jesus reagiu a esses acontecimentos? E como Pedro reagiu? Que lições podemos aprender com as diferenças?
“Por fim Caifás, erguendo para o Céu a mão direita, dirigiu-se a Jesus na forma de um solene juramento: “Conjuro-Te pelo Deus vivo que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. Mateus 26:63. DTN 497.2
“Em face desse apelo não podia Cristo permanecer silencioso. Havia tempo de ficar mudo e tempo de falar. Não falara antes que fosse diretamente interrogado. Sabia que responder agora era tornar certa Sua morte. Mas o apelo era feito pela mais alta autoridade reconhecida da nação, e em nome do Altíssimo. Cristo não deixaria de mostrar o devido respeito pela lei. Mais ainda, Sua própria relação para com o Pai era invocada. Precisa declarar plenamente Seu caráter e missão. Dissera aos discípulos: “Qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos Céus”. Mateus 10:32. Agora, pelo próprio exemplo, repetiu a lição.” DTN 497.3
“‘Vereis em breve’, disse Jesus, ‘o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu.’ Nessas palavras, apresentou Cristo o reverso da cena que então ocorria. Ele, o Senhor da vida e da glória, estaria sentado à destra de Deus. Seria o juiz de toda a Terra, e de Suas decisões não haveria apelação. Então tudo que estava oculto seria trazido à luz da presença divina, e o juízo feito sobre cada homem segundo as suas obras. DTN 497.6
“A cena desapareceu da visão do sacerdote. As palavras de Cristo o espicaçavam vivamente, a ele, o saduceu. Caifás negara a doutrina da ressurreição, do juízo e da vida futura. Ficou então enlouquecido por uma fúria satânica. Esse Homem, um preso diante dele, havia de atacar suas mais acariciadas teorias? Rasgando os vestidos, para que o povo visse o pretenso horror que experimentava, exigiu que, sem posteriores preliminares, fosse o Preso condenado por blasfêmia. “Para que precisamos ainda de testemunhas?” disse ele; “Eis que bem ouvistes agora a Sua blasfêmia. Que vos parece?” Mateus 26:65, 66. E todos O condenaram. DTN 498.1
“Quando Caifás rasgou as vestes, esse ato significou o lugar que, para com Deus, os judeus ocupariam daí em diante, como nação. O povo outrora favorecido por Deus estava-se separando dEle, e se tornando rapidamente um povo rejeitado por Deus. Quando, sobre a cruz, Cristo exclamou: “Está consumado” (João 19:30), e o véu do templo se rasgou em dois, o Santo Vigia declarou que o povo judeu rejeitara Aquele que era o protótipo de todos os seus tipos, a substância de todas as suas sombras. Israel se divorciara de Deus. Bem podia então Caifás rasgar as vestes oficiais, que indicavam pretender ele ser representante do grande Sumo Sacerdote; pois não mais tinham elas qualquer significação para ele ou para o povo. Bem podia o sumo sacerdote rasgar as vestes em horror por si mesmo e pela nação.” DTN 499.3
“Pedro não pretendia dar a conhecer sua verdadeira identidade. Ao assumir ar de indiferença, colocara-se no terreno do inimigo, tornando-se fácil presa da tentação. Houvesse ele sido chamado a combater por seu Mestre, e teria sido um corajoso soldado; ao ser, porém, apontado pelo dedo do escárnio, demonstrou-se covarde. Muitos que não recuam diante da luta ativa por seu Senhor, são, em face do ridículo, levados a negar sua fé. Associando-se com aqueles a quem deviam evitar, colocam-se no caminho da tentação. Convidam o inimigo a tentá-los, e são levados a dizer e fazer coisas de que, sob outras circunstâncias, nunca se tornariam culpados. O discípulo de Cristo que, em nossos dias, disfarça sua fé por temor de sofrimento ou ignomínia, nega a seu Senhor tão realmente como o fez Pedro na sala do julgamento.” DTN 500.6
“Quando os degradantes juramentos acabavam de sair dos lábios de Pedro e o penetrante canto do galo lhe ressoava ainda no ouvido, o Salvador voltou-Se dos severos juízes, olhando em cheio ao pobre discípulo. Ao mesmo tempo os olhos de Pedro eram atraídos para o Mestre. Naquele suave semblante leu ele profunda piedade e tristeza; nenhuma irritação, porém, se via ali. DTN 501.3
“A vista daquele rosto pálido e sofredor, daqueles trêmulos lábios, daquele olhar compassivo e cheio de perdão, penetrou-lhe a alma como uma seta. Despertou-se a consciência. Ativou-se a memória. Pedro recordou sua promessa de poucas horas antes, de que havia de ir com seu Senhor à prisão e à morte. Lembrou-se de seu desgosto quando, no cenáculo, Ele lhe dissera que havia de negar seu Senhor três vezes naquela noite. Pedro acabava mesmo de declarar que não conhecia a Jesus, mas compreendia agora com amarga dor quão bem o Senhor o conhecia e quão exatamente lhe lera o coração, cuja falsidade nem ele próprio conhecia.” DTN 501.4
“Ao ser proferida pelos juízes a condenação de Jesus, uma fúria satânica apoderou-se do povo. Os gritos assemelhavam-se ao rugido de feras. A multidão precipitou-se para Jesus, bradando: É culpado, seja morto! Não fossem os soldados romanos, e Jesus não teria vivido para ser pregado na cruz do Calvário. Teria sido despedaçado perante os juízes, não houvesse a autoridade romana interferido, restringindo, pela força das armas, a violência da turba. DTN 503.4
“Pagãos indignaram-se ante o brutal tratamento infligido a uma pessoa contra quem coisa alguma fora provada. Os oficiais romanos declararam que os judeus, sentenciando a Jesus, estavam infringindo o poder romano, e que era mesmo contra a lei judaica condenar um homem sobre seu próprio testemunho. Essa intervenção produziu momentâneo amainar nos acontecimentos; mas os guias judeus estavam mortos tanto para a piedade como para a vergonha. DTN 503.5
“Os sacerdotes e os principais esqueceram a dignidade de seu cargo, e maltrataram o Filho de Deus com vis epítetos. Escarneceram dEle por causa de Sua filiação. Declararam que Sua presunção em Se proclamar o Messias, tornava-O merecedor da mais ignominiosa morte. Os mais dissolutos homens empenharam-se em infames maus-tratos contra o Salvador. Foi-Lhe jogado à cabeça um pano velho, e Seus perseguidores batiam-Lhe no rosto, dizendo: “Profetiza-nos, Cristo, quem é o que Te bateu?” Lucas 22:64. Ao ser tirado o pano, um pobre infeliz cuspiu-Lhe no rosto. DTN 503.6
“Os anjos de Deus registraram fielmente todo insultuoso olhar, palavra e ato contra seu bem-amado Comandante. Um dia, os homens vis que zombaram de Cristo e Lhe cuspiram no pálido e sereno rosto, hão de vê-Lo em Sua glória, resplandecendo mais brilhante que o Sol.” DTN 503.7