“E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.” BKJ – Marcos 8:34
“Dos escolhidos companheiros de Seu ministério essas cenas, a Ele patenteadas, se achavam ainda ocultas; perto estava, porém, o tempo em que Lhe deviam testemunhar a agonia. Deviam ver Aquele a quem amavam e em quem confiavam, entregue às mãos dos inimigos e pendurado à cruz do Calvário. Em breve os deixaria Ele, para enfrentarem o mundo sem o conforto de Sua presença visível. Jesus sabia quão duramente os perseguiriam o ódio e a incredulidade, e desejava prepará-los para as provações.” DTN 288.3
“Estava para lhes dizer os sofrimentos que O aguardavam. Antes disso, porém, afastou-Se sozinho e orou para que seus corações estivessem preparados para receber-Lhe as palavras. Depois de reunir-Se a eles, não lhes comunicou imediatamente aquilo que lhes desejava participar. Antes de fazê-lo, ofereceu-lhes o ensejo de confessar sua fé nEle, a fim de se fortalecerem para a próxima provação. Perguntou-lhes: ‘Quem dizem os homens ser o Filho do homem?’” Mateus 16:13. DTN 289.1
“Jesus formulou agora uma segunda pergunta, com respeito aos próprios discípulos: ‘E vós, quem dizeis que Eu sou?’ Pedro respondeu: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’”. Mateus 16:15, 16. DTN 289.3
“Jesus respondeu a Pedro, dizendo: ‘Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas Meu Pai que está no Céu’”. Mateus 16:17. DTN 290.1
“Depois da confissão de Pedro, Jesus recomendou aos discípulos que a ninguém dissessem que Ele era o Cristo. Esta recomendação foi feita por causa da decidida oposição dos escribas e fariseus. Mas ainda, o povo, e até mesmo os discípulos, tinham tão falso conceito do Messias, que um anúncio público do Mesmo não lhes daria idéia exata de Seu caráter e de Sua obra. Mas dia a dia Ele Se lhes estava revelando como o Salvador, e assim desejava dar-lhes uma genuína concepção de Si mesmo como o Messias.” DTN 292.1
Leia Marcos 8:22-30. Por que foi necessário que Jesus tocasse duas vezes no cego para curá-lo, e que lições podemos tirar desse relato?
“‘E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os Seus discípulos Lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestasse nele as obras de Deus. [...] Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). Foi pois, e lavou-se, e voltou vendo’”. João 9:1, 2, 6, 7. DTN 332.3
“A crença dos judeus a respeito da relação existente entre o pecado e o sofrimento, partilhavam-na os discípulos de Cristo. Procurando corrigir-lhes o erro, não explicou a causa da aflição do homem, mas disse-lhes qual seria o resultado. Em virtude da mesma, manifestar-se-iam as obras de Deus. “Enquanto estou no mundo”, disse Ele, “sou a luz do mundo”. João 9:5. Havendo então untado os olhos do cego, mandou-o lavar-se no tanque de Siloé e foi restaurada a vista do homem. Assim respondeu Jesus, de maneira prática, a pergunta dos discípulos, como costumava fazer com as que Lhe eram dirigidas por curiosidade. Os discípulos não eram chamados a discutir o fato de quem tinha ou não tinha pecado, mas a entender o poder e a misericórdia de Deus em dar vista ao cego. Era claro que não havia poder de curar no lodo, ou no tanque em que o cego foi mandado lavar-se, mas que a virtude residia em Cristo. DTN 332.7
“Os fariseus não podiam deixar de espantar-se com a cura. Todavia, mais do que nunca, encheram-se de ódio; pois o milagre se realizara no sábado. DTN 333.1
“Os vizinhos do jovem, e os que o conheciam antes, quando cego, diziam: “Não é este aquele que estava assentado e mendigava?” João 9:8. Olhavam-no duvidosos, porque, depois que os olhos lhe foram abertos, se lhe mudara a fisionomia, e animara-se, e parecia outro homem. A pergunta corria de uns para outros. Alguns diziam: “É este”; outros: “Parece-se com ele.” Mas o que recebera a grande bênção pôs termo à questão dizendo: ‘Sou eu’. João 9:9. Falou-lhes então de Jesus, contando-lhes como o curara, e eles perguntaram: ‘Onde está Ele?’ Respondeu: ‘Não sei’”. João 9:12. DTN 333.2
Leia Marcos 8:31-38 O que Jesus ensinou sobre o custo de segui-Lo?
“‘Desde então começou Jesus a mostrar aos discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia’. Mateus 16:21. DTN 292.3
“Mudos de angústia e espanto escutaram os discípulos. Cristo aceitara o reconhecimento, por parte de Pedro, de Sua filiação de Deus; e agora Suas palavras, indicativas dos sofrimentos e da morte que O aguardavam, pareciam incompreensíveis. Pedro não se pôde conter. Tomando o Mestre à parte, como a querer subtraí-Lo à impendente condenação, exclamou: ‘Senhor, tem compaixão de Ti; de modo nenhum Te acontecerá isso’”. Mateus 16:22. DTN 292.4
Satanás buscava desanimar a Jesus e desviá-Lo de Sua missão; e Pedro, em seu cego amor, estava sendo o porta-voz da tentação. O príncipe das trevas fora o autor do pensamento. Por trás daquele impulsivo apelo, achava-se sua instigação. No deserto Satanás oferecera a Cristo o domínio do mundo, sob a condição de abandonar a vereda da humilhação e do sacrifício. Apresentava agora a mesma tentação ao discípulo de Cristo. Estava procurando fazer Pedro fixar o olhar na glória terrestre, para que não visse a cruz a que o Salvador lhe desejava atrair os olhos. E, por intermédio de Pedro, Satanás novamente insistia na tentação contra Jesus. Mas Ele não lhe deu ouvidos; pensava no discípulo. Satanás interpusera-se entre Pedro e seu Mestre, para que o coração do discípulo não fosse tocado ante a visão da humilhação de Cristo por ele. As palavras de Cristo foram dirigidas, não a Pedro, mas àquele que o estava tentando separar do Redentor. “Para trás de Mim, Satanás”. Mateus 16:23. Não te continues a interpor entre Mim e Meu errado servo. Deixa-Me estar face a face com Pedro, para que lhe possa revelar o ministério do Meu amor. DTN 293.2
Foi para Pedro uma lição amarga, lição que não aprendeu senão vagarosamente, essa de que a estrada de Jesus na Terra se estendia através de agonias e humilhações. O discípulo recuava da comunhão com o Senhor nos sofrimentos. Mas no ardor da fornalha havia ele de descobrir-lhe as bênçãos. Muito tempo depois, quando sua figura ativa se achava curvada ao peso dos anos e labores, escreveu: “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da Sua glória vos regozijeis e alegreis”. 1 Pedro 4:12, 13. DTN 293.3
“Jesus explicou então aos discípulos que Sua própria vida de abnegação era um exemplo do que a deles deveria ser. Chamando para junto de Si os discípulos e o povo que O estivera rodeando, disse: “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me”. Mateus 16:24. A cruz estava associada ao poder de Roma. Era o instrumento da mais cruel e humilhante forma de morte. Exigia-se dos mais vis criminosos que levassem a cruz ao lugar da execução; e muitas vezes, quando lhe iam colocar nos ombros, resistiam com desesperada violência, até que fossem subjugados e o instrumento de tortura sobre eles posto. Mas Jesus pedia a Seus seguidores que tomassem a cruz e a conduzissem após Ele. Para os discípulos, Suas palavras, conquanto imperfeitamente compreendidas, indicavam que se deviam submeter à mais profunda humilhação — submeter-se mesmo à morte por amor de Cristo. Nenhuma entrega mais completa poderiam haver expresso as palavras do Salvador. Mas tudo isto aceitara por eles. Jesus não reputou o Céu um lugar desejável, enquanto nos achávamos perdidos. Deixou as cortes celestes por uma vida de vitupério e insultos, e uma ignominiosa morte. Aquele que era rico nos apreciáveis tesouros celestes, tornou-Se pobre, a fim de, pela Sua pobreza, nos tornarmos ricos. Cumpre-nos seguir a vereda por Ele trilhada. DTN 293.4
“Amor às pessoas por que Cristo morreu, significa a crucifixão do próprio eu. Aquele que é filho de Deus deve, daí em diante, considerar-se um elo na cadeia baixada para salvar o mundo, um com Cristo em Seu plano de misericórdia, indo com Ele em busca dos perdidos para os salvar. O cristão deve sempre ter presente que se consagrou a Deus, e que seu caráter deve revelar Cristo perante o mundo. O espírito de sacrifício, a simpatia, o amor manifestados na vida de Cristo, devem reaparecer na existência do obreiro de Deus. DTN 294.1
“‘Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de Mim e do evangelho, esse a salvará’. Mateus 16:25. Egoísmo é morte. Nenhum órgão do corpo poderia viver, se limitasse a si próprio os seus serviços. O coração, deixando de enviar o sangue vital à mão e à cabeça, perderia rapidamente a força. Como nosso sangue, assim é o amor de Cristo difundido por toda parte através de Seu corpo místico. Somos membros uns dos outros, e a alma que se recusa a dar perecerá. E “que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro”, disse Jesus, ‘se perder a sua alma? ou que dará o homem em recompensa de sua alma?’” Mateus 16:26. DTN 294.2
Leia Marcos 9:1-13. O que Pedro, Tiago e João viram com Jesus?
“Vai baixando a noite, quando Jesus chama para junto de Si três de Seus discípulos — Pedro, Tiago e João — e os conduz através dos campos e, por acidentada vereda, a uma deserta encosta de montanha. O Salvador e os discípulos tinham passado o dia viajando e ensinando, e a subida da encosta lhes acrescenta a fadiga. Cristo aliviara o fardo do espírito e do corpo de muitos sofredores; fizera-lhes passar no enfraquecido organismo a corrente da vida; Ele próprio, no entanto, também Se acha sujeito às contingências humanas, e, como os discípulos, cansa-Se com a ascensão.” DTN 296.1
“Afinal, Cristo lhes diz que não precisam ir mais adiante. Afastando-Se um pouco deles, o Homem de dores derrama Suas súplicas com grande clamor e lágrimas. Roga força para resistir à prova em favor da humanidade. Precisa, Ele próprio, de apoiar-Se com renovado vigor à Onipotência, pois só assim pode contemplar o futuro. E desafoga os anseios de Seu coração quanto aos discípulos, para que, na hora do poder das trevas, sua fé não desfaleça. Cai espesso o orvalho sobre o curvado corpo, mas Ele o não sente. Adensam-se as sombras da noite ao Seu redor, mas não lhes atende ao negror. Assim se passam vagarosamente as horas. A princípio, os discípulos unem as próprias preces às Suas, com sincera devoção; algum tempo depois, porém, são vencidos de cansaço, e mesmo esforçando-se por conservar o interesse, ei-los adormecidos. Jesus lhes falara de Seus sofrimentos; levara-os consigo para que se Lhe unissem em oração; está mesmo então a interceder por eles. O Salvador notara a tristeza dos discípulos, e desejara amenizar-lhes a mágoa, com a certeza de que sua fé não fora vã. Nem todos, mesmo dentre os doze, podem receber a revelação que lhes deseja fazer. Unicamente os três que Lhe hão de testemunhar a angústia no Getsêmani foram escolhidos para estar com Ele no monte. Agora, a nota predominante de Sua prece é que lhes seja dada uma manifestação da glória que Ele tinha com o Pai antes que o mundo existisse, que Seu reino seja revelado a olhos humanos e que os discípulos sejam fortalecidos pela contemplação do mesmo. Roga que testemunhem uma manifestação de Sua divindade que, na hora de Sua suprema agonia, os conforte com o conhecimento de que Ele é com certeza o Filho de Deus, e que Sua ignominiosa morte é uma parte do plano da redenção.” DTN 297.1
“Sua oração é ouvida. Ao achar-Se curvado em humildade sobre o pedregoso solo, o céu repentinamente se abre, descerram-se de par em par as portas de ouro da cidade de Deus, e uma santa irradiação baixa sobre o monte, envolvendo a figura do Salvador. A divindade interior irrompe através da humanidade, encontrando-Se com a glória vinda de cima. Erguendo-Se da prostrada posição em que Se achava, Cristo apresenta-Se em divina majestade. Desaparecera a agonia da alma. Seu semblante resplandece agora “como o Sol”, e Seus vestidos são “brancos como a luz”. DTN 297.2
“Os discípulos, despertando, contemplam a inundação de glória que ilumina o monte. Com temor e espanto, fitam a radiosa figura do Mestre. Ao poderem resistir à assombrosa luz, vêem que Cristo não Se encontra só. Ao Seu lado acham-se dois seres celestiais, entretidos em íntima conversa com Ele. São Moisés, que falara com Deus sobre o Sinai; e Elias, a quem foi concedido o alto privilégio — outorgado unicamente a mais outro dos filhos de Adão — de não passar sob o poder da morte. DTN 297.3
“Jesus estava revestido da luz do Céu, como há de aparecer quando vier a ‘segunda vez, sem pecado [...] para salvação’. Hebreus 9:28. Pois virá “na glória de Seu Pai, com os santos anjos”. Marcos 8:38. Cumpriu-se então a promessa do Salvador aos discípulos. Sobre o monte, foi representado em miniatura o futuro reino da glória — Cristo, o Rei, Moisés como representante dos santos ressuscitados, e Elias dos trasladados. DTN 297.5
“Os discípulos ainda não compreendem a cena; mas regozijam-se de que o paciente Mestre, o Manso e Humilde, que tem vagueado para cá e para lá como desamparado peregrino, seja honrado pelos favorecidos do Céu. Crêem que Elias veio para anunciar o reino do Messias, e que o domínio de Cristo está prestes a se estabelecer na Terra. A lembrança de seu temor e decepção, querem eles banir para sempre. Ali, onde se revela a glória de Deus, desejam demorar-se. Pedro exclama: “Mestre, bom é que nós estejamos aqui, e façamos três cabanas, uma para Ti, outra para Moisés, e outra para Elias.” Os discípulos estão confiantes que Moisés e Elias foram enviados para proteger seu Mestre, e estabelecer-Lhe a autoridade de rei.” DTN 298.1
Leia Marcos 9:30-41. O que há de diferente na segunda predição de Jesus sobre Sua morte e ressurreição? (Compare com Mc 8:31.) Sobre o que os discípulos discutiam, e que instrução Jesus lhes deu?
“Na viagem pela Galiléia, tentara Cristo outra vez preparar o espírito dos discípulos para as cenas que O aguardavam. Disse-lhes que devia ir a Jerusalém para ser morto e ressuscitar. E acrescentou a estranha e solene comunicação de que devia ser entregue nas mãos dos inimigos. Nem ainda então compreenderam os discípulos as Suas palavras. Embora os envolvesse a sombra de uma grande tristeza, ainda em seu coração encontrou lugar o espírito de rivalidade. Discutiram entre si qual seria considerado maior no reino. Essa contenda, pensaram eles ocultar de Jesus, e não procuraram, como de costume, achegar-se para mais perto dEle, mas demoraram-se atrás, de modo que Ele lhes ia na dianteira quando entraram em Cafarnaum. Jesus leu-lhes os pensamentos, e ansiou aconselhá-los e instruí-los. Esperou, porém, para isso, uma hora de sossego quando os corações estivessem abertos para Lhe receber as palavras.” DTN 304.2
“Quando Cristo e os discípulos se achavam a sós em casa, enquanto Pedro se dirigira ao mar, Jesus chamou os outros a Si e perguntou: “Que estáveis vós discutindo pelo caminho?” Marcos 9:33. A presença de Jesus e Sua pergunta fizeram a questão aparecer-lhes num aspecto inteiramente diverso daquele em que a tinham considerado quando questionavam pelo caminho. A vergonha e um sentimento de condenação própria fê-los emudecer. Jesus lhes dissera que havia de morrer por amor deles, e sua egoísta ambição achava-se em doloroso contraste com o abnegado amor dEle. DTN 306.1
“Quando Jesus lhes disse que havia de ser condenado à morte e ressurgir dos mortos, buscava atraí-los a uma conversação a respeito da grande prova de fé por que haviam de passar. Houvessem os discípulos estado prontos a receber o que Ele lhes desejava comunicar, e ter-se-iam poupado a atroz angústia e desespero. Suas palavras lhes teriam levado consolo na hora de se verem privados dEle, cheios de decepção. Mas se bem que lhes houvesse falado tão claramente acerca do que O aguardava, a menção de Sua próxima ida a Jerusalém lhes suscitou novamente as esperanças de que o reino estava para ser estabelecido. Isto levara à questão quanto a quem deveria ocupar os mais altos lugares. Voltando Pedro do mar, contaram-lhe os discípulos a pergunta do Salvador, e por fim alguém se animou a perguntar a Jesus: “Quem é o maior no reino dos Céus?” DTN 306.2
“O Salvador reuniu os discípulos em torno de Si, e disse-lhes: “Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos”. Marcos 9:35. Havia nestas palavras uma solenidade e impressividade que os discípulos estavam longe de compreender. O que Cristo discernia não podiam ver. Não compreendiam a natureza de Seu reino, e esta ignorância era a causa aparente de sua contenda. A causa real, porém, jazia mais fundo. Explicando a natureza de Seu reino, Cristo acalmaria temporariamente a questão; isto, no entanto, não teria tocado no motivo básico. Mesmo depois de haverem recebido o mais pleno conhecimento, ter-se-ia renovado a dificuldade a qualquer questão de precedência. Assim sobreviria ruína à igreja de Cristo depois de Sua partida. A luta pelo mais alto lugar era a operação do mesmo espírito que dera origem à grande controvérsia nos mundos de cima, e trouxera a Cristo do Céu para morrer. Diante dEle surgiu a visão de Lúcifer, o “filho da alva”, sobrepujando em glória a todos os anjos que rodeavam o trono, e ligado pelos mais íntimos laços ao Filho de Deus. Lúcifer dissera: “Serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:12, 14); e o desejo de exaltação própria levara conflito às cortes celestiais, e banira uma multidão das hostes de Deus. Houvesse na verdade Lúcifer desejado ser semelhante ao Altíssimo, e nunca teria perdido o lugar que lhe fora designado no Céu; pois o espírito do Altíssimo manifesta-se em abnegado ministério. Lúcifer desejava o poder de Deus, mas não o Seu caráter. Buscava para si mesmo o mais alto lugar, e toda criatura que é movida por seu espírito fará o mesmo. Assim serão inevitáveis a separação, a discórdia e a contenda. O domínio torna-se o prêmio do mais forte. O reino de Satanás é um reino de força; cada indivíduo considera todos os outros como obstáculo no caminho de seu próprio progresso, ou um degrau sobre o qual pode subir para chegar a uma posição mais elevada.” DTN 307.1
“Mui ternamente, mas com solene acento, Jesus procurou corrigir o mal. Mostrou qual o princípio que domina no reino do Céu, e em que consiste a verdadeira grandeza, segundo a estimativa das normas do alto. Os que eram atuados por orgulho e amor de distinções, estavam pensando em si mesmos e nas recompensas que deveriam obter, em vez de cuidar em como devolver a Deus os benefícios recebidos. Eles não teriam lugar no reino do Céu, pois achavam-se identificados com as fileiras de Satanás. DTN 307.3
“Diante da honra vai a humildade”. Provérbios 15:33. Para ocupar um elevado cargo diante dos homens, o Céu escolhe o obreiro que, como João Batista, assume posição humilde diante de Deus. O mais infantil dos discípulos é o mais eficiente no trabalho para Deus. Os seres celestes podem cooperar com aquele que procura não se exaltar, mas salvar almas. Aquele que mais profundamente sente sua necessidade de auxílio divino, há de pedi-lo; e o Espírito Santo lhe dará vislumbres de Jesus que lhe fortalecerão e elevarão a alma. Da comunhão com Cristo sairá ele para trabalhar pelos que estão perecendo em seus pecados. Está ungido para sua missão; e é bem- sucedido onde muitos instruídos e intelectualmente sábios fracassariam.” DTN 307.4
Leia Marcos 9:42-50. O que une os ensinos de Jesus nessa passagem?
“Não bastava aos discípulos de Jesus o serem instruídos quanto à natureza de Seu reino. O que necessitavam era uma mudança de coração que os pusesse em harmonia com seus princípios. Chamando a Si uma criancinha, Jesus a colocou no meio deles; e, envolvendo ternamente o pequenino nos braços, disse: “Em verdade vos digo que, se vos não converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos Céus”. Mateus 18:3. A simplicidade, o esquecimento de si mesma e o confiante amor de uma criancinha, são os atributos estimados pelo Céu. São essas as características da verdadeira grandeza.” DTN 308.2
“As palavras do Salvador despertaram nos discípulos um sentimento de desconfiança de si mesmos. Ninguém fora especialmente apontado na resposta; mas João foi levado a duvidar de que em certo caso sua atitude fora correta. Com espírito de criança, expôs a questão a Jesus. “Mestre”, disse ele, “vimos um que em Teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue”. Lucas 9:49. DTN 308.6
“Tiago e João pensaram que, opondo-se a esse homem, tinham tido em vista a honra de seu Senhor; começaram a ver que tiveram ciúmes da sua própria. Reconheceram seu erro e aceitaram a reprovação de Jesus: “Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagres em Meu nome e possa logo falar mal de Mim”. Marcos 9:39. Pessoa alguma que se mostrasse de algum modo amiga de Cristo, devia ser repelida. Muitos havia que tinham sido profundamente movidos pelo caráter e a obra de Cristo, e cujo coração se estava abrindo para Ele com fé; e os discípulos, que não podiam ler os motivos, deviam ter cuidado em não desanimar essas almas. Quando Jesus não mais Se achasse pessoalmente com eles, e a obra fosse deixada em suas mãos, não deviam ceder a um espírito estreito, exclusivista, mas manifestar a larga simpatia que tinham visto em seu Mestre. DTN 308.7
“O fato de uma pessoa não se conformar em tudo com nossas próprias idéias e opiniões, não nos justifica proibir-lhe o trabalhar para Deus. Cristo é o grande Mestre; não nos compete julgar ou ordenar, mas deve cada um sentar-se com humildade aos pés de Jesus e dEle aprender. Toda alma que Deus tornou voluntária, é um instrumento por onde Cristo revelará Seu amor cheio de perdão. Quão cuidadosos devemos ser para não desanimar um dos que transmitem a luz de Deus, interceptando assim os raios que Ele queria fazer brilhar no mundo! DTN 309.1
“A aspereza e a frieza manifestadas por um discípulo para com uma pessoa a quem Cristo estava atraindo — um ato como o que João praticara ao proibir alguém de operar milagres em nome de Cristo — poderia dar em resultado o encaminhar aquela criatura para a senda do inimigo, ocasionando a ruína de uma alma. De preferência a fazer alguém isso, disse Jesus: “Melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha e se submergisse na profundeza do mar.” E acrescentou: “Se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno”. Marcos 9:42-44. DTN 309.2
“Por que essa veemente linguagem, a cujo vigor nenhuma outra pode exceder? Porque “o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido”. Mateus 18:11. Hão de Seus discípulos mostrar menos consideração pela alma de seus semelhantes do que manifestou a Majestade do Céu? Cada alma custou um infinito preço, e quão terrível é o pecado de desviar uma alma de Cristo, de maneira que para ela hajam sido em vão o amor, a humilhação e agonia do Salvador!” DTN 309.3
Portanto, quando você fizer do Reino de Deus o seu principal interesse, certamente se encontrará no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa e colhendo as mais ricas bênçãos de Deus. Pode então ter certeza de que Ele abrirá o caminho e o levará aonde for necessário, mesmo que tenha de tirá-lo do poço e dizer aos ismaelitas para levá-lo ao Egito e colocá-lo para trabalhar na casa de Potifar. Ele pode até ter que levá-lo para a prisão antes de colocá-lo no trono junto com o Faraó. Ou pode fazer com que você fuja do Egito e o faça criar ovelhas ao redor do Monte Horebe. Pode levá-lo contra o Mar Vermelho enquanto os egípcios o estiverem perseguindo. Pode levá-lo ao deserto, onde não há água nem comida. Pode ser que o leão e o urso venham para tomar os seus cordeiros, que Golias mate o seu povo, e que o rei os lance na fornalha ardente ou na cova dos leões.
Certamente, centenas e milhares de coisas podem acontecer, mas aquele que confia em Deus e faz bem o seu trabalho encontrará todos esses chamados obstáculos ou contra tempos como maravilhosas libertações e caminhos para o sucesso, todos cumprindo os planos maravilhosos de Deus e o caminho estabelecido por Ele para a sua promoção de uma grande realização para outras. Quando você está sob o cuidado e controle de Deus, nunca diga que o Diabo fez isso ou aquilo, independentemente do que seja, pois ele não pode fazer nada a menos que seja permitido. Sempre dê o crédito a Deus.